Saturday, July 31, 2010

Despedidas

As despedidas na infância me eram doloridas. No último dia de férias de verão, sempre passadas com a família no Ceará, a cena se repetia: me despedaçava em prantos de ter que dizer adeus aquela casa de paredes arredondadas, aos primos, as vós, as tias e aos tios.
Apesar de eu saber que no ano seguinte voltaria, isso não diminuia minha dor ao partir.
E a despedida do mar? Era o maior dos rituais: horas me deixando levar pelas ondas e mergulhando compulsivamente quantas vezes fosse possível, numa tentativa de guardar um pouco daquela água dentro de mim. Se tinha companhia no último banho da temporada, sempre dava um jeitinho de passar os últimos momentos sozinha, para me despedir intimamente do meu Verde Mar.
Ao longo da vida fui embora muitas vezes mais. Morei em muitas casas, em várias cidades, alguns países e dei adeus, sobretudo, a centenas de pessoas realmente especiais que fizeram parte da minha vida em algum momento. Continuo a sentir um aperto no peito, mas invariavelmente sou invadida por uma felicidade melancólica vinda da lembrança de tudo o que eu vivi ali. Por isso passei a apreciar com gratidão a última olhada sobre as montanhas do Negev, o sol da Índia se pondo ao meu lado no caminho para o aeroporto, o elevador chegando no térreo e a porta se fechando atrás de mim pela última vez, o último chá na minha república, o último hamburger americano, a última aula de educação física no colegial, o último abraço apertado, o último beijo seco (só as lágrimas tem direito a serem molhadas), o último suspiro e finalmente "tchau". As palavras faltam nesse momento e quem precisa delas? O olhar já diz tudo.
"Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus... bem cedo junto ao fogo, tornaremos a nos ver". Com nossas mãos entrelaçadas, ao redor do fogo de conselho, cantávamos a Canção da Despedida nos acampamentos do Escotismo. Era um momento muito lindo e mais do que uma despedida era,sim, um momento de celebração e agradecimento.
Se voltaremos a nos ver ? Não sei. Se há a vontade, sempre há a possibilidade. Enquanto estivermos vivos, não importa se do outro lado do planeta, pode ser. Um breve adeus ou um último adeus ? Quem sabe ?
Ás vezes olho para trás, ás vezes não. E continuo caminhando.

1 comment:

  1. A vida é esse Carrossel Que Roda todo o tempo - Para quem gira parece atômico o carrossel na parada /vai alguém querido que saltou daqui para a esfera da roda-gigante.

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